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Por trás do denso nevoeiro que engoliu a Choupana ontem à noite e que ameaçava fazê-lo a qualquer momento durante o princípio da tarde de hoje (e que viria a acontecer breves minutos depois do término de jogo), apareceu um Benfica com garra, com ambição, e com evidente vontade de fazer mais do que deixar a Choupana para trás e despachar o assunto. Mesmo com uma assistência pobre, muito longe da lotação esgotada que se esperava para a noite de ontem, o Benfica soube brilhar com fascinantes exibições individuais e coletivas que já poderiam golear facilmente o Benfica do princípio do campeonato. Quando a maioria das variáveis que envolvem um jogo são motivo de desilusão, desde as condições climatéricas até ao estado do relvado, ver uma equipa dar a volta por cima e conseguir um resultado que faz mais do que só assegurar os três pontos deve ser motivo de alegria. Por aqui, foi com certeza.
O (re)começo do jogo, a partir de um pontapé de canto para o Nacional, poderia ter trazido imediatamente um golo ao Benfica, que saiu num contra-ataque de cortar a respiração, mas que acabou por não surtir efeitos práticos. O primeiro golo chegou anunciado por oportunidades anteriores e foi apontado por Jonas aos 24 minutos, tendo ficado o resultado parado nos 0-1 até ao intervalo. Se o Benfica foi claramente superior durante a primeira parte, o mesmo não se pode dizer durante os primeiros tempos da segunda, em que a pressão que o Nacional acusou culminou num golo, na sequência de uma hesitação tão caricata de Lisandro que até Júlio César demorou a raciocinar que era preciso ir tentar tirar a bola à linha. Não conseguiu, e o Nacional empatava o jogo, deixando um sabor amargo na boca dos Benfiquistas. Depois do golo, o Benfica conseguiu tornar a tomar as rédeas ao jogo, e foi ver sequências de exibições individuais e coletivas fascinantes que trouxeram mais dois golos a Jonas e um a Mitroglou, um remate forte, já dentro da grande área, mas ainda longe da baliza, que deixou mais um aviso do que o grego consegue fazer, sem que o tenha ainda demonstrado.
A nível particular: Lisandro continua a ser um defesa central seguro, sendo determinante em variadas ações defensivas, mas hoje merece um puxão de orelhas pela hesitação que ofereceu um golo (no mínimo bizarro) ao Nacional. Das poucas vezes que Júlio César foi chamado a intervir, destaca-se uma excelente defesa, em resposta a um excelente remate, que poderia ter culminado num excelente golo. Se o que pretendeu ao sair a jogar com a bola nos pés em determinada altura, avançando ao nível dos centrais (valendo-lhe comentários sarcásticos da parte dos comentadores da SportTV), foi dar mais profundidade ao jogo, pareceu-me uma atitude mais arriscada do que poderia ter sido vantajosa, chegando a haver tempo para um ligeiro ataque de coração por causa dos homens mais avançados do Nacional, que não se encontravam longe. Talvez não tenha sido uma altura apropriada para descobrir que a sua verdadeira paixão é ser jogador de campo. Fejsa fez uma exibição quase imaculada, que se poderia ter perdido na sombra de um potencial golo que adviria daquela perda de bola quase ridícula à entrada da área. Felizmente, o golo não aconteceu, e Fejsa consegue sair perdoado e apenas com a memória de mais uma exibição segura, que me vai convencendo que deixar Samaris no banco talvez não seja assim tão má ideia. Jonas, mais uma vez, fez uma exibição excelente, que quase faz julgar que ou os seus 31 anos não passam de uma excelente piada (o que não seria impossível, não tivesse ele nascido no 1º de Abril), ou os 30 já não são sinal de obrigatório declínio na carreira de um futebolista. O que Carcela mostrou hoje em campo torna claro que a vida de Rui Vitória ficará mais difícil, e não mais fácil, quando tiver de volta às suas opções Salvio e Gaitán: Como encaixar tanto talento? (Especialmente considerando que, em momentos de inspiração, Pizzi é também constante e cumpridor, embora continue sem valer 14 milhões). Destaque quase triste para Gonçalo Guedes, que continua sem conseguir demonstrar a qualidade que trazia nos pés nos primeiros jogos em que brilhou esta época e os motivos que lhe valeram a mesma cláusula de rescisão que Nico Gaitán. Por último, há que mencionar André Almeida e Eliseu que, mesmo fazendo jogos quase consistentemente muito abaixo do que se espera para um jogador titular do Benfica, fizeram um cruzamento e um remate, respetivamente, dignos de nota.
Carrega, Benfica!
Pergunto-me quantos mais jogos terão de ser adiados na Choupana, quantas mais jornadas terão de ficar em atraso, para que a Liga perceba que a situação da Choupana é um problema que exige uma rápida resolução. Retirar as equipas da Madeira da competição não é solução, mas há outras que podem ser tomadas e que resolveriam esta situação de uma vez por todas: Criar protocolos que permitam a realização dos jogos nos Barreiros (ou noutro campo neutro), em vez de na Choupana, ou cobrir o estádio pareceriam-me as melhores soluções, mas não necessariamente prováveis ou viáveis, pelo que, pelo menos, seria importante começar a evitar jogos à noite. Jogar mais cedo não é necessariamente sinónimo de jogar sem nevoeiro, mas a probabilidade de se verificarem estas condições atmosférias ao início da tarde tende a ser menor. E, obviamente, esta seria apenas uma solução temporária até que se encontrasse uma solução que terminasse de vez com esta situação que se vai tornando incomportável. É necessário respeito, por parte da Liga, tanto pelos jogadores e equipa técnica, como pelos adeptos que se deslocam ao Estádio à hora agendada e vêem o jogo não ser realizado, correndo o risco de não poder estar presentes num qualquer outro dia e hora em que decidam jogar o jogo. Sejamos sinceros, muitas das pessoas que puderam estar ontem na Choupana às 20:30, certamente não poderão estar a uma segunda-feira ao meio-dia. Já para não falar nos inúteis sete minutos de jogo que se jogaram ontem. Ao assistir ao jogo na SportTV, dei por mim frequentemente a procurar a bola de um lado do campo quando ela já não estava lá há muito tempo. Na verdade, foi mais ou menos como ouvir o relato.
Quanto a este senhor, por quem o respeito que sinto já é muito pouco, tenho a dizer: Apelidar uma arbitragem de 'excelente' quando há um pénalti muito discutível (a mão parecia estar mesmo fora de área) e um conjunto de agressões perdoadas roça o hipócrita, mas essa não é uma característica rara nos discursos deste indivíduo. E, em relação às declarações em que deixa implícito que Rui Vitória nunca ganhou títulos... Possivelmente, esqueceu-se daquela Taça de Portugal que Rui Vitória ganhou. Contra o Benfica. Que ele treinava. Eu, pessoalmente, não me esqueci - infelizmente.
O assunto do dia de hoje, e de ontem, e possivelmente de todos os dias até ao próximo discurso polémico de Bruno de Carvalho ou Jorge Jesus, é que o atual treinador do Sporting de Lisboa não considera Rui Vitória como um treinador. Antes de continuar, eu gostava de apresentar a minha solidariedade para com Jorge Jesus e dizer que o compreendo perfeitamente. É que é difícil considerar Rui Vitória como um treinador quando, na verdade, o homem já escreveu um livro, já foi professor, já foi jogador, toca bateria e, vá lá, treina o atual bicampeão nacional. No meio de um currículo tão vasto, perceber o que chamar a Rui Vitória pode causar confusão. É provável que Jorge Jesus esteja apenas a demonstrar mais um dos seus comuns problemas com essa componente linguística tramada que é a semântica, e não a ser um completo otário sem quaisquer noções éticas ou deontológicas. É a comunicação social que temos, constantemente a denegrir a imagem de todos os órgãos relacionados com o Sporting de Lisboa, mesmo em situações inofensivas como esta. Se pensarmos bem, é possível que estejamos simplesmente perante uma situação a que podemos chamar de Lotopegui 2.0. Jorge Jesus por vezes engana-se, umas vezes diz que é treinador, outras vezes diz que não é treinador... São erros que acontecem e não merece ser crucificado por isso.
Se nos lembrarmos que Rui Vitória é o homem que, enquanto não-treinador do Benfica, foi ganhar a casa do atual líder do campeonato espanhol, que expulsou o Futebol Clube do Porto da Taça da Liga ao comando desse colosso mundial que é o Fátima, e que roubou uma Taça de Portugal a Jorge Jesus enquanto líder do Vitória de Guimarães, torna-se evidente que Jorge Jesus não podia estar mesmo a falar a sério quando disse que Rui Vitória não é treinador. É que se um homem que nem sequer é treinador lhe roubou a Taça de Portugal das mãos, o que é que isso diz sobre as suas próprias competências? É algo a refletir.
O jogo não parecia bem encaminhado e a probabilidade de José Sá sofrer um golo parecia menor que a de ser Júlio César a enfrentar o desalento. A surpresa chegou à meia hora de jogo, lá numa bola perdida que já nem parecia dar para ninguém, e Pizzi faz o primeiro de seis golos, com muito mérito de Carcela, muito azar do defesa do Marítimo, e uma boa dose de sorte. Pizzi havia de tornar a marcar daí a quatro minutos e Raúl dois depois. Se a primeira meia hora de jogo deixara esta alma Benfiquista a fazer contas à vida, aqueles seis minutos deixaram-na a fazer contas aos golos: é que três em seis minutos é coisa para deixar uma pessoa confusa. Já na segunda parte, marcou Jonas dois pénaltis e Talisca entrou, literalmente, a ma(t)(rc)ar. Meros segundos depois de ter entrado em campo, num daqueles lances em que uma pessoa ainda se está a ajeitar no sofá e já houve um golo, Talisca fez lembrar o seu velho eu - quem não Talisca, não petisca.
Num jogo em que há goleada das antigas, com margem para mais dois golos não fosse Raúl Jiménez insistir em falhar oportunidades na cara do guarda-redes..., não deve haver grande espaço a críticas. Jonas brilhou mais uma vez, sem medo de procurar a bola fora da sua zona de conforto, insistindo em criar linhas de passe aos colegas e em pensar depressa e bem com a bola nos pés e sem ela. Pizzi, não sendo um jogador brilhante, parece estar a jogar os 50% que ainda estavam no Atlético de Madrid. Há males que vêm por bem. Lisandro López veio mostrar, mais uma vez, porque é uma alternativa perfeita ao capitão lesionado, salvando o Benfica de duas bolas particularmente perigosas enquanto ainda estava o marcador a zeros. Destaque especial para a celebração dos golos, quando nunca deixa Júlio César celebrar sozinho e transborda felicidade como se cada golo fosse o seu Euromilhões. Se o Fiorentina levar a sua avante e conseguir roubar-nos Lisandro López, fica desde já convocada uma manifestação à porta do Estádio da Luz.
Uma alegria destas a meio da semana veio mesmo a calhar. Que venha Domingo, Benfica. Eu, pessoalmente, não digo que não a outra exibição destas.
Não há muito para dizer num dia como este. O calendário marca dois anos desde que Eusébio deixou não só no universo benfiquista, mas em todo o futebol, um enorme vazio. Sabe bem saber que um dia os meus filhos e os meus netos hão-de ouvir falar de Eusébio como se ele ainda aí estivesse, sentado na bancada da Luz, a assistir aos jogos com o coração e a alma cheios do que é ser Benfiquista. Obrigado, Rei, por tudo o que deste à nação benfiquista, e obrigado por tudo o que continuas a dar, mesmo depois de já seres só mero espetador, onde quer que estejas. Descansa eternamente.
Julgo que já não restavam dúvidas a ninguém de que o assunto favorito de Bruno de Carvalho é o Benfica. Na verdade, numa estimativa mais ou menos científica, eu diria que a cada três palavras proferidas por este simpático senhor anafado, quatro delas estarão de alguma forma relacionadas com o Benfica. Não me perguntem como é possível, mas é, e basta ouvi-lo (ou lê-lo) para perceber o que quero a dizer. Hoje, como não podia deixar de ser, Bruno de Carvalho volta a abordar o seu assunto favorito no seu Facebook. Aliás, fá-lo mesmo no lugar de dar os parabéns aos seus jogadores ou de celebrar a re-ascenção ao primeiro lugar do campeonato. Sr. de Carvalho, talvez fosse útil começar a disfarçar - um dia destes os seus adeptos chateiam-se de o ver dar mas atenção ao rival que ao próprio clube. É só um conselho.
Bruno de Carvalho faz questão de lembrar "os 1120 jantares" e que o Benfica não o vai adormecer com a história de "quem fez um melhor negócio". Devo começar por expressar o meu profundo pesar por esta situação, já que este senhor a dormir deve ser muito mais interessante do que acordado. De igual forma, o Sr. Presidente Bruno de Carvalho apresenta-se muito indignado por o Benfica ter começado o ano com dois penaltis não assinalados, usando o sempre isento O Jogo para suportar os seus argumentos. Podia perguntar-me onde estava este súbito defensor da verdade desportiva quando o Benfica foi roubado em três grandes penalidades no jogo contra o Rio Ave, mas a resposta é quase evidente: a dormir. Já era tarde e é possível que já o tivessem mandado para a cama.
Como um outro com um nome semelhante há quase um milénio atrás, D. Sanches I merece ser chamado de “O Povoador”. Ao contrário do monarca, que obteve o merecido cognome por ter concedido cartas de foral a diversas cidades do país, sendo responsável pela povoação das mesmas, D. Sanches I foi responsável por povoar variadíssimas áreas do campo do estádio D. Afonso Henriques que de outra forma não teriam visto ação alguma – começando pela baliza adversária. No entanto, e como qualquer outra figura da realeza de uma nação (se me é permitida a ousadia de considerar o Benfica como a minha pátria), as exibições de Renato Sanches não o isentam de críticas. Pergunto-me quantas vezes se terão ouvido por aí, ao longo da transmissão de ontem, o futebolisticamente típico, e tantas vezes necessário, “Passa a bola, pá!”. Passar a bola, pá, é, de facto, algo que o moço tem de aprender a fazer de vez em quando. Ele e mais uns quantos.
Agora que já se abordou aquele que tem sido o MVP, não só do jogo de ontem, como também de todo um Benfica que tem demonstrado pouca raça, querer e ambição, há espaço para tecer considerações acerca do resto de indivíduos de vermelho (e um de amarelo) que jogaram futebol ontem pelas 18 horas e 30 minutos. Chamar-lhes equipa não é fácil, Benfica ainda menos, e por isso talvez nos fiquemos por tão vaga designação. O Benfica como um grupo coeso, com ideias e organizações capazes de ganhar um jogo pela estratégia, não tem sido mais que uma memória distante, e a qualidade individual só oferece vitórias assim-assim que não deixam os Benfiquistas por esse mundo fora com a sensação de que o jogo poderia ter mais uma horita ou duas. Como comprovado pelo futebol a que se assistiu ontem ao final da tarde, ver um jogo do Benfica terminar já não faz pensar “Que pena, pá, isto ‘tava a ser giro” – pelo menos, não tanto como faz o Benfiquista ir à casa de banho de fininho ver se o nervosismo e a aflição fizeram algum estrago acidental.
Há, no entanto, pontos positivos a ressalvar: Lisandro López continua a fazer exibições consistentes, quase fazendo esquecer o capitão lesionado que cada vez mais se arrisca a regressar ao ativo para ativamente aquecer o banco, e Pizzi, de vez em quando, lá vai mostrando o talento que carrega nos pés, ainda assim não suficiente para justificar a oca aposta de uma qualquer oca cabeça que escolheu dar 14 milhões por ele. Prosseguindo. Foi notório o esforço de Jonas por criar linhas de passe, o esforço de Jiménez por se desmarcar, e embora se louvem os esforços, estes pareceram quase infrutíferos durante a maior parte do jogo. O desenho do ataque do Benfica ainda parece um work in progress, e resta-nos esperar que Rui Vitória encontre a forma ideal de organizar jogadores que já deram mostras do seu potencial e Mitroglou.
O Guimarães-Benfica valeu pelos três pontos e pela aproximação aos lugares mais altos do pódio, mas pecou pela falta do futebol-espetáculo a que o Benfica vinha habituando os sócios. Não se pode ter tudo.
Com o devido respeito que me merece o nosso glorioso hino, tenho de admitir que sempre me causou alguma urticária aquela última linha que compara as camisolas berrantes a papoilas saltitantes. Assumo-me fã incondicional de metáforas, mas esta deixa um pouco a desejar. Afinal, se a formos analisar a fundo, chegamos a diversas conclusões interessantes: Em primeiro lugar, nunca tive a oportunidade de assistir ao saltitar de uma papoila. É possível que tal se deva unicamente à minha falta de experiência na área da jardinagem, mas para bem da compreensão desta metáfora, seria interessante disponibilizar aos Benfiquistas a oportunidade de apreciar uma papoila em pleno saltito de vez em quando. Jogo sim, jogo não, substituía-se o voo da águia pelo saltitar da papoila e resolvia-se o assunto de uma vez. É uma ideia a considerar. Em segundo lugar, esta metáfora parece inapropriada para as situações em que a equipa se vê obrigada a variar os equipamentos. Levanta-se a seguinte questão: Quando o Benfica joga de branco cândido, as camisolas continuam a poder ser comparadas a papoilas saltitantes? É que toda a gente sabe que as papoilas brancas são uma excelente fonte para a produção de estupefacientes, e eu não sei até que ponto será benéfico para a imagem pública do clube aparecer associado a atividades ilícitas. São questões como esta que me preocupam. Além disso, há-que admitir que é palavreado que abre a porta a insultos fáceis. Ser chamado de papoila saltitante aquando de uma discussão acesa acerca de qual dos clubes tem o melhor lateral esquerdo, por exemplo (hipoteticamente, claro está, já que benfiquista que se preze não tomaria parte em discussões destas enquanto o Eliseu estiver no plantel), é não só extremamente provável, como é passível de ser acompanhado de um tom jocoso, uma careta de desdém, porque, de facto, trata-se de um nome parvo. E o adepto benfiquista não pode escapar. Afinal, segundo o hino, o adepto benfiquista é, efetivamente, uma papoila saltitante e admite-o com um orgulho muito seu, de cachecol em riste, sempre que vai ao estádio. É uma situação complicada.
Por isso, e em honra à pior metáfora do futebol português, arrisquei-me a chamar a este espaço Papoila Saltitante. Até as piores coisas do Benfica me falam ao coração.
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